Quando a violência vem de dentro da família
Quando ouvimos falar em violência doméstica, quase sempre pensamos em agressões cometidas por parceiros ou ex-parceiros. A verdade, porém, é que a situação é muito mais complexa e dolorosa do que se imagina. A violência também pode vir de quem deveria nos proteger: mães, filhas, irmãs, avós.
Em silêncio, muitas mulheres sofrem agressões físicas, psicológicas e emocionais dentro do próprio lar, vindas de outras mulheres da família — e o peso da culpa e da vergonha muitas vezes impede que busquem ajuda.
A boa notícia é que a lei está do lado da vítima, independentemente de quem seja o agressor. A Lei Maria da Penha reconhece essas relações familiares e oferece mecanismos de proteção para romper o ciclo de violência. Neste artigo, vamos entender como a legislação atua nesses casos e por que é tão importante reconhecer que amor não combina com agressão — mesmo quando o laço é de sangue.
O que é violência doméstica entre familiares mulheres?
Violência doméstica compreende atos ou omissões que atinjam a integridade física, mental, sexual, moral ou patrimonial de alguém no ambiente familiar ou de convivência.
A lei entende que “doméstico” não é apenas o relacionamento amoroso entre casais, mas também inclui relações de sangue, afinidade ou até convivência duradoura.
Assim, mães, filhas, irmãs, avós, tias e outras mulheres podem ser tanto vítimas quanto agressoras no contexto da violência doméstica.
O que caracteriza essa violência é o ambiente familiar e a relação de gênero — não o tipo específico de vínculo entre as pessoas.
Exemplos de violência doméstica entre mulheres da família
Para ilustrar, imagine alguns cenários:
Uma mãe que agride fisicamente a filha adulta, seja por questões de controle excessivo ou por problemas emocionais não tratados.
Irmãs que vivem em constantes agressões físicas e psicológicas, onde o conflito ultrapassa limites e se transforma em abuso.
Avós ou tias que praticam humilhações, xingamentos e ameaças constantes a mulheres mais jovens da família, usando a relação de poder e autoridade para exercer violência.
Esses são apenas alguns exemplos de como a violência pode surgir onde menos se espera — no seio familiar.
Como identificar sinais de violência doméstica dentro da família?
De acordo com a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), mulheres em situação de violência são amparadas no contexto doméstico, familiar ou de relação íntima de afeto, sem distinção de orientação sexual ou necessidade de convivência atual.
Assim, se uma mulher sofre violência de outra mulher dentro da família, a proteção legal é garantida. A vítima pode, inclusive, solicitar medidas protetivas de urgência, como:
- Afastamento da agressora da residência.
- Proibição de aproximação e contato.
- Proteção patrimonial (para impedir destruição de bens ou documentos).
- Encaminhamento para atendimento psicológico e rede de apoio.
A aplicação da Lei Maria da Penha em casos de violência familiar
Denunciar uma mãe, uma irmã ou uma filha é um dos passos mais difíceis para uma mulher vítima de violência doméstica.
A sociedade ainda carrega o estigma de que “família é sagrada” e que problemas internos devem ser “resolvidos em casa”, o que só aprofunda o sofrimento da vítima.
Mas é essencial entender que o amor verdadeiro não machuca.
Proteger-se de uma agressão — física ou emocional — não é uma traição à família, mas um ato de amor próprio e de sobrevivência.
Romper o ciclo de violência é fundamental para que a vida, a dignidade e a saúde emocional possam ser preservadas.
Leia também: Proteção para Todas: A Força da Lei Maria da Penha
Conclusão: Você não está sozinha — seus direitos existem e precisam ser respeitados
Se você, ou alguém que você conhece, está vivendo violência dentro do próprio lar, lembre-se: você não está sozinha.
Existem leis, profissionais e redes de apoio preparados para ajudar.
Buscar ajuda exige coragem, especialmente no começo, mas é o primeiro e mais importante passo para reconquistar a própria liberdade.
Violência não é amor. Laços de sangue não justificam a dor. Sua vida importa.
Medidas de proteção: Como buscar ajuda e quebrar o ciclo de violência
📞 Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 (funciona 24h, atendimento gratuito e sigiloso).
📞 Disque 100 – Direitos Humanos
🏢 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs)
⚖️ Defensoria Pública
🏠 Centros de Referência da Mulher no seu município
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Dra. Andréa Cristhianni é advogada com atuação voltada para os direitos humanos e a proteção dos grupos mais vulneráveis. Comprometida com a justiça social, ela dedica sua prática à defesa e promoção dos direitos fundamentais, atuando para garantir dignidade, liberdade e igualdade para todas as pessoas.